Andava procurando um modo de explicar minha mudança em relação ao desespero inicial de nunca se tornar uma grande jornalista, de ser eternamente incompreendida, de toda dúvida em relação a tudo (como nesse ou nesse outro post). Depois de ler tantas coisas e pensar ainda mais sobre elas cheguei a uma conclusão que me parece óbvia agora:
todo o problema parte/partia do ato da escrita
A história tem começo, meio e possivelmente um fim. (que, certamente abre a porta para um novo começo).
O começo: antes de entrar para jornalismo eu tinha a certeza que isso era tudo que eu queria fazer e que com certeza desempenharia bem esse papel. Todas as pessoas ao meu redor também acreditavam nisso. O que, de certa forma, ficou bem confortável.
O meio: eu entrei para faculdade e pirei ao perceber que não era boa o bastante para estar ali e que o jornalismo não era nada do que eu achava e que eu não poderia dessa forma desempenhar o papel que acreditava e que eu não poderia desempenhar papel nenhum. Em resumo me senti um lixo.
O fim: Entendi que... Bom aí começa o post de hoje.
Quando eu surtei e me senti um lixo, procurei acreditar desesperadamente que poderia com certeza melhorar. Tentei de todas as formas escrever do jeito que agradava aquela ou aquela outra professora. Claro que cada uma me cobrava um estilo, claro que cada uma me falava uma coisa, claro que cada uma tinha um gosto diferente. O que mais me frustava era entregar um texto que eu sinceramente achava que estava bom e alguém me devolvia pedindo para eu trocar essa ou aquela palavra. Trocava. Passei a ser uma máquina. Fiquei um tanto (muito) desiludida com tudo isso. Eu não queria trocar a palavra porque isso mudaria todo o sentido do meu texto! Usar intelectuais ao invés de estudiosos faz toda a diferença para as entrelinhas!
E, por algum tempo tive dúvidas sobre o que eu de fato queria para o meu futuro.
Mas porque tantas dúvidas? Isso era tudo que eu sempre quis! Todos esses livros, esses textos, esses estudos, esse conhecimento! Escolhi ser jornalista justamente porque sempre quis saber e entender sobre tudo e todos, porque a minha paixão é por todas as profissões e, com o jornalismo eu posso ser todas!
Então, fui atrás do que eu achava que era bom pra mim, fui escrever de acordo com as regras. Fui escrever o final da história primeiro e resumir tudo em 10 linhas. Mas tudo isso se tornou um martírio! Era tão chato! Daí eu fui atrás das orações complexas e longas. Das palavras que a gente tira do dicionário de sinônimos do Word. As frases longas e complicadas também nunca fizeram meu estilo.
Me peguei perdida no momento em que eu tinha espaço para contar a história do jeito que eu queria. Em meio a tantas regras e exigências eu não conseguia ser mais eu mesma.
E então eu percebi que o barato de escrever é praticar como a dança: diariamente e com muito prazer. O lance da obrigação e das regras estraga toda a diversão. Abstrai de tudo e passei a escrever com as regras que meu coração faz.
Os maiores elogios do meu blog que ouço é em relação ao texto simples e verdadeiro. Orações curtas que significam. Entendi então que essa é minha forma de escrever, entendi o lance do estilo que os professores tanto falavam.
Não sou perfeita, meu texto muito menos. Minhas vírgulas nunca estão no lugar porque eu sempre emprego-as quando quero dar um ar dramático ou uma pausa para reflexão no texto. Do jeitinho que aprendi quando tinha 10 anos e estava sendo alfabetizada.
Não, eu não estou desprezando nada do que tenho aprendido na Universidade, no curso de jornalismo e com meus excelentes professores. Só parei de tentar provar para os próprios que vou ser uma grande jornalista porque escrevo bem. Só parei de tentar provar para mim mesma que preciso agrada-los com "bons" textos. ♫ Porque mentir para si mesmo é sempre a pior mentira... ♫ Afinal o bem, o bonito, o certo, o direito é sempre tão relativo!
Preciso apenas escrever, porque isso é com certeza muito maior que eu. Preciso escrever pelo prazer de ver letras formando palavras, pelo prazer de ver palavras formando frases, pelo prazer de ver frases formando histórias, pelo prazer de ver histórias formando vidas...
E isso talvez não fará de mim a melhor e mais excepcional jornalista, mas certamente fará de mim a pessoa mais feliz do mundo. E isso, por enquanto basta.
E claro, toda certeza serve somente para ser desconstituída.
"O que sou então? Sou uma pessoa que tem um coração que por vezes percebe, sou uma pessoa que pretendeu pôr em palavras um mundo ininteligível e um mundo impalpável. Sobretudo uma pessoa cujo coração bate de alegria levíssima quando consegue em uma frase dizer alguma coisa sobre a vida humana ou animal.” LISPECTOR, Clarice
segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012
sobre o ato de escrever: começar pelo final
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Mari, sempre leio seus posts. Como estudante de Letras, como você diz, é claro que reparo em vírgulas e acentos e tudo mais, mas nesse de hoje você pegou o ponto de tudo. Escrever bem não quer dizer seguir todas as regras gramaticais, mas fazer com que as pessoas compreendam exatamente aquilo que você quis dizer, e isso, devo dizer que você faz muito bem. Parabéens! Acredito no seu trabalho e em tudo o que você pode conquistar. Conte sempre comigo para o que precisar!
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