domingo, 19 de abril de 2015

Mudo ou vou pra Tailândia?

Eu vivi durante dois anos inteiros levantando na cama na segunda feira e indo para o trabalho. Aquele que me pagava bem, mas que não me realizava. Aquele que tinha os melhores amigos, os melhores profissionais, mas não me mostrava que eu estava fazendo alguma diferença profissionalmente. Aquele que me fazia mais feliz a cada nova descoberta, que me preenchia pessoalmente, mas me matava profissionalmente.
Eu vivi os últimos dois anos aceitando o morno da vida. Aceitando a vida. Dizendo para mim mesmo que era só o que o destino tinha a me oferecer. Eu vivi quase uma vida toda aceitando ser uma pessoa mediana. Um estudante mediano, uma pesquisador mediano, um profissional mediano. Porque eu sempre tava na média. Eu nunca me destaquei muito, nunca marquei muito as pessoas, os lugares.
Mas acordei na segunda como nos últimos dois anos e percebi que bastava. It's enough! Eu simplesmente entendi que não bastava ter um mega salário e descontar toda uma frustração profissional em viagens, passeios e bem estar.
Era hora de movimentação.
E então veio o medo, das frustrações, do não confirmado, do deu tudo errado e do continuo sendo mediano porque sempre foi assim. Veio o medo do não reconhecimento.
Ouvi muitas pessoas, ouvi muita torcida, ouvi muitos elogios, ouvi muitas opiniões.
Mas comecei a me boicotar. Você sabe como é né... O problema maior foi que eu sempre tive dificuldades de acreditar em mim mesmo.
Sai do trabalho chato da segunda. Fui em uma agência de viagens e comprei um pacote para a Tailândia. Talvez lá eu consiga ficar de cabeça pra baixo em um elefante. Resolvi esperar mais 6 meses, viajar e depois mudar de vida. Afinal, no próximo emprego eu possivelmente ganharia a metade do salário e nunca poderia me dar a luxo de ir pra qualquer lugar do mundo.



segunda-feira, 13 de abril de 2015

(não) me liga de novo

Mais uma vez sozinha no apartamento de uma grande cidade que não sabe que eu existo. O mundo me falou que não era você. O meu sexto sentido, a minha melhor amiga e até a minha mãe que é tão desligada soube que não era. Mas você era lindo demais, sabia tocar violão e compunha músicas. O típico artista que não gosta de nada além de você mesmo. Eu não te culpo sabe? Você sempre me disse que não sabia se apaixonar. E eu também não sabia, então fiquei tranquila. Você sempre me disse que queria conquistar o mundo. Só que eu nunca acreditei né, você odiava passar o fim de semana comigo na cidade grande. Acho que entendi que o problema era a cidade grande, quando na verdade o problema era eu. Porque tudo bem eu passar o fim de semana com você no interior, no seu porto seguro, no seu habitat natural né? Será que era tudo bem ou foi só mais um de seus jogos que eu nunca entendi as regras?
Eu cansei de brincar de jogos que não se parecem com jogos. Vamos só jogar poker? Pelo menos eu sei que você vai estar blefando! Porque agora eu tô sozinha de novo tá vendo? Eu deixei passar aquele garoto lindo só porque ele não tocava violão, foi isso que te contei na época lembra? Na verdade eu o mandei parar de gostar de mim porque foi naquele fim de semana que você me chamou para ir para Ilha Bela. Lembra que fim de semana incrível? Como eu poderia ficar com outra pessoa depois disso? Foi nesse fim de semana que eu descobri que você era uma droga, que eu estava viciada e não queria tratamento.
Mas eu tô sozinha, você terminou a faculdade e foi morar naquela fazenda que cria algum tipo de animal sob umas perceptiva nova de não exploração que não faz o mínimo de sentido pra mim. Você foi embora ontem e falou que me ligava quando o fim de semana fosse tranquilo, quando a casa tivesse limpa. Pra gente poder passar o fim de semana na fazenda. Eu odeio fazenda sabia? Já te falei o quanto a cidade grande me faz respirar e viver bem? E a fazenda fica a 4 horas daqui!
Me faz um favor agora? Liga pro menino que não sabe tocar violão, fala pra ele que você tem ferrado minha vida e que agora vai fazer alguma coisa boa. Fala pra ele que precisa que ele volte e me faça gostar dele. Faz outra coisa? Não parece mais não, fala olhando nos meus olhos que a gente nunca vai ter nada e que tá indo embora pra Groenlândia pra sempre. E que não vai voltar pra me buscar. Diz que todas as suas promessas não vão ser cumpridas.
Eu não quero mais acordar sozinha. Eu não quero mais estar numa cidade que ninguém sabe que eu existo. Eu não quero mais ser uma drogada e muito menos jogar seus jogos.
Só não esquece de me ligar quando chegar na fazenda ok?