E foi aí que tudo deu errado. Porque ela queria a praia e ele queria o museu. Ela queria a estrada e ele queria a família. Ela queria o silêncio e ele queria a briga, a gritaria, a resposta. Ela não tinha nem a pergunta. Eles não conseguiam mais conversar, porque estar longe dos amigos fazia dele uma pessoa estressada. Estar longe da praia fazia dela uma pessoa triste. Ele sentia que perder aquela menina seria perder tudo que ele tinha conquistado na vida com seu próprio mérito. Ela sabia que perder aquele menino era perder todo o mundo que passou a brilhar para ela. Mas ela não conseguia conversar com ele e ele não conseguia conversar com ela. E o fato dele usar camiseta regata que ela conseguia relevar antes agora estava insuportável. E o fato dela odiar milho também o deixava tão triste. Mas ele precisava fazer seu tão sonhado curso de Belas Artes na capital. Mas ela precisava surfar e a praia mais próxima era há quase 10 horas dali. Começaram os gritos e a menina enfrentou seu medo de um mundo cinza e resolveu voltar para o litoral. Ela não conseguia mais lidar com o barulho.
Ele ficou na capital, chorou, chorou, chorou, chorou, chorou. Chegou o inverno e a capital ficou escura, trite. E ninguém entendeu porque e como o casal feito um para o outro acabou. Ela foi viver de novo. Descobriu outro tom de azul nas águas do litoral. Ela só não descobriu as cores nos homens.
Só restou um monte de marcas, dois corações vazios e duas vidas em seus caminhos diferentes, distantes e com sentimentos tão parecidos. Quem dera se a capital tivesse o mar ou se o mar tivesse o museu. Quem dera a vida fosse assim, encaixável como um quebra-cabeças.
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