De lembranças eu tinha alguns porta-retratos, livros e uma daquelas bandeiras cheia de rabiscos de despedida que os amigos bêbados escreveram no bar ontem a noite. Amigos esses que estão fazendo um super drama por eu ter escolhido ir embora e sem data para voltar.
Um dia inteiro dentro de um avião e um apertamento com móveis desconhecidos em uma avenida suja e movimentada em qualquer lugar bem longe de qualquer um dos outros lugares que eu chamo de casa.
Abri as malas e coloquei alguns porta-retratos na cabeceira da cama, talvez para tentar fazer com que aquele lugar seja um pouquinho mais meu agora. Para que eu possa chamar de casa o quanto antes.
Mais um vez é hora de lidar com a saudades. Não daquelas que te fazem querer voltar no tempo e viver tudo de novo e estar do lado de todas aquelas pessoas do mesmo jeito outra vez. A saudades de quem convive com e aprende com a mudança abre um buraco no peito e ainda assim te faz sorrir.
Porque você lembra daquele sorriso amigo e daquele colo que só se pode encontrar a muitas milhas de distância e você tem absoluta certeza que viveu aquele momento porque precisava daquilo, mas que agora não precisa mais.
A saudade te faz chorar e te faz pensar em voltar, em desistir. Mas todas aquelas pessoas que ficaram estão esperando que você siga em frente e você segue. Porque passou e já é hora de viver outras vidas, outros amores, outros amigos, outras paixões, outros ventos e outros mares.
Abri a janela e vi aquela cidade iluminada pelo crepúsculo de outono. Pôr-do-sol e luzes começando a se acender. Resolvi levar a saudade para passear, já que ela vai me perturbar incessantemente até que eu consiga chamar esse novo lugar de casa. Então, ela vai continuar ali, a saudade, ela nunca some do meu peito. Mas vai fechar a ferida e somente fica a mais uma cicatriz, daquelas que começam a coçar quando o tempo muda.
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