quarta-feira, 20 de maio de 2015

Falta.

A gente vive. Sorri, diz bom dia, toma café, dá risada de algumas piadas sem graça, ouve algumas histórias. A gente pergunta se tá tudo bem e responde que tá bem também. A camiseta está passada, a calça está limpa e o sapato está engraxado. O cabelo está cortado, alinhado e hidratado. O sorriso continua no rosto, automaticamente e sem pensar. Existe um emprego, mesmo com a crise no país. Existe uma casa, dinheiro para pagar as contas, pais por perto, família feliz. Teve também uma sonhada viagem para a Africa. Perfeito, a vida que todo mundo pediu a Deus.

Não.

Porque parece que falta. Falta ar, falta tempo, falta sorriso. Falta. Falta o coração vibrando, os olhos brilhado, a perna tremendo. Falta. Falta o desafio, o medo, o frio na barriga. Falta a emoção, a hesitação, o tesão, falta o ão, o oitenta, o quente que queima, que machuca, que te dá vontade de chorar. Falta.

Mas não dá pra saber onde falta. Pode ser a falta de casa, a falta de compromisso, a falta de provas, a falta daquele trabalho. Só da pra saber que falta um monte de coisas, que a vida mudou, que tanta coisa acabou. E faz falta. Falta.

E daí faz um buraco no peito, deixa o coração frio, a vida morna. Dá vontade de começar tudo de novo, refazer, remontar, destruir e reconstruir.

Quero largar o hospital, largar o consultório, quero largar o mundo. Talvez eu só comece a segunda faculdade e vá estudar antropologia e morar com os índios. Ou eu faça um concurso para a PM para subir o morro e matar bandido. Talvez eu entre pro BOPE ou pra ROTA. Eu sinto falta da emoção, da falta de segurança.

Mas, será que dá pra sentir falta de alguma coisa que nunca tivemos?



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