ATENÇÃO: se trata de post longo e cheio de lembranças, não comece a ler se não estiver disposto a saber sobre lembranças de terceiro no de ensino médio de uma garota chata que não fez bagunça e não matou aula para ficar bêbada.
Era 2002 e 2006. Depois foi em 2009 e agora é 2014. Ciclos que fecham em nossa vida e que são marcados por ciclos que fecham na escola enquanto ainda te obrigam a ser estudantes. Depois ciclos que continuam a se fechar por estudos porque você escolheu isso. Ou ciclos que se fecham pelo próprio caminho que você traçou.
Eu me lembro bem do meu 3° ano do Ensino Médio. Eu decidi que teria que ser o melhor. E desde que o ano começou eu sabia que seria o último naquela cidade, naquela realidade, com aqueles amigos e principalmente, naquela escola. E, hoje com mais consciência de tudo que já vivi e da responsabilidade que tenho com tudo que vou viver eu consigo perceber que desde muito nova eu sabia que estar onde eu estava não era o suficiente. E por esse mesmo motivo estou caminhando de modo tão diferente do que a maioria das pessoas que passaram e passam pela minha vida.
Eu acordava todos os dias as 5h45, pegava uma calça jeans o uniforme da escola, um chinelo ou um tênis, uns cadernos, uma bolsa cheia de roupa de ballet, tomava um copo de lite com chocolate, escovava os dentes, tentava fazer o meu cabelo ficar liso ou simplesmente prendia um rabo de cavalo, colocava um chapéu ou fazia com que a franja ficasse escondida. Saia de casa 6h25, encontrava o meu vizinho e caminhávamos até o terminalzinho perto de casa. Pegava o ônibus 6h35 e chegava no ponto da escola 7h55. Geralmente tinha alguém me esperando. Subia uma rua longa até a escola e a conversa era sempre qualquer futilidade que eu não lembro, ou a matéria da prova, ou a última fofoca, ou a programação do fim de semana, ou a programação de depois da aula (apensar de eu nunca ter tempo para nenhum dos dois).
Quando eu chegava no portão de trás (para que os alunos não ficassem na pracinha, como se adiantasse!) a diretora estava as 7h sorrindo, dando um carinhoso "Bom dia!" e pedindo para ver o nosso uniforme. Ela reclamou do meu uniforme cortado em forma de baby-look durante todos os 7 anos que eu estudei na escola, mas no 3° ano tenho a impressão que ela desistiu de mim (ainda bem!). Acho que foi aí que eu peguei a mania de dizer Bom dia todas as vezes que chego de manhã em qualquer lugar. Atravessava todo o pátio interno da escola, subia as escadas e eu ia para uma sala e a minha melhor amiga de Ensino Médio ia para outra. Eu decidi que precisava trocar de sala por motivos de ser odiada na sala que eu estava no 2° ano. Era engraçado o 3° ano. A realidade dentro da minha sala de aula era totalmente diferente do que a realidade no intervalo, entrada e saída da escola. Eu tinha que me dedicar a minha melhor amiga quando não estava na sala e podia ter outros amigos incríveis enquanto estava tendo aula.
Depois da escola eu tinha uma rotina diferente cada dia da semana, o que fazia com que ninguém (nem meus pais) soubesse onde eu estava a tarde, ao não ser quando a pessoa tinha que estar comigo. Eu podia estar no meu bairro dando aula para minhas alunas preferidas, ou podia estar no Projeto fazendo aulas de jazz ou dando aula para as minhas alunas amigas. Eu também podia estar na escola sendo monitora de matemática da 5° série ou na academia fazendo mais aulas de jazz. Só que eu também podia estar em qualquer outro lugar se encontrando escondido com meu então namorado. Costumava deixar um post it na buzina do carro do meu pai antes de sair para a escola para lembra-lo de onde ele precisava ir me buscar. Então todos os fins de tarde ele passava ou no projeto ou na academia e me levava até o pré-vestibular. Eu deixava o material da escola e a bolsa do ballet e pegava a apostila do cursinho. Atravessava a Av Brasil e sempre chegava cedo demais para aula. Mesmo assim entrava pelo portão lateral, mostrava a minha carterinha e ia para cantina ou para sala de estudos. As vezes eu ia direto para a minha sala de aula guardar lugar e tentar fingir que estudava alguma coisa. E quando dava 19h eu tinha que estar pronta, com outras 5 amigas do lado para encarar mais 4 horas de professores falando sobre coisas que eu já esqueci.
Eu me lembro de dormir nas aulas de física do 3° ano porque o professor do cursinho tinha explicado a mesma matéria na noite anterior. Me lembro de fazer a lição de matemática durante a educação física porque eu não tinha tido tempo de fazer em casa, na verdade eu nem tinha ficado em casa. Eu fazia alguns exercícios dos famosos Caderninhos do Aluno do Governo de São Paulo e trocava com a minha amiga de sala que tinha feito outros. Eu me lembro de copiar as redações que eu entregava no Pré-Vestibular para a professora de redação da escola. Também tinham as aulas que fazíamos reuniões de formatura ou de camiseta de formandos, para na verdade não assistir aula (eram sempre escolhidas a dedo, por exemplo aulas de Filosofia ou Sociologia, coisas desse tipo). E tinham as aulas que eu assinava uma autorização para que eu pudesse ir embora mais cedo para ir ao banco e não perder a aula de jazz a tarde. Tinham as quintas que passávamos pela diretora da escola as 7h e falávamos que entraríamos na 2° aula porque era dia de pastel. E nós realmente entrávamos na 2° aula. E teve um Diário de Bordo e um caderninho de lembranças desenvolvidos por mim e por minha melhor amiga. Teve dias que eu simplesmente quis ficar em casa dormindo e fiquei. Teve provas que eu descobri que teria no dia que ela seria aplicada. Teve aulas sentada no fundo da sala porque eu não queria fazer nada. E teve aulas que eu realmente não fiz nada porque eu achava mais importante fazer exercícios da apostila do cursinho. Eu de fato, fiquei pirada. Os intervalos eram em lugares que não poderiam me encontrar, geralmente perto da sala da diretora, onde tinha um sofá quentinho no inverno. Hoje em dia ele fica dentro da direção, o que impediria totalmente de passar lá o intervalo. Eu gostava de ficar no caminho que uma das professoras passaria na volta para a sala, porque ela me trazia amoras do estacionamento. Ah e também havia o sagrado salgado de salsicha: 10 min antes do sinal bater para o intervalo o dinheiro tinha que estar a mão e o material pronto para ser fechado em 2 segundos. Essa era uma das vantagens de sentar na primeira carteira em frente a porta, eu tinha o poder de sair da sala antes de qualquer outra pessoa. E também tinha a vantagem de estudar no corredor de salas mais perto do pátio de fora, onde ficava a cantina. Os salgados de salsicha se tornaram sagrados porque se eu não fizesse todo esse esquema de pegar o dinheiro antes, sentar perto da porta e (por sorte) estudar no corredor que ficava mais perto do pátio de fora eu jamais conseguiria o único salgado de salsicha que era vendido na cantina. Quantas vezes eu já não arrisquei minha vida descendo aquela escadaria de dois em dois degraus, correndo feito louca para garantir o meu lanche e para não pegar fila, claro!
O ano foi passando e eu tive que escolher que Universidade eu estudaria no próximo ano, isso incluiria me mudar de Campinas. Aconteceu também que eu precisava continuar estudando no pré-vest e eu já não tinha mais saco. E houve aquele desespero de não saber o que seria e como seria o ano seguinte. Eu não achava que podia existir vida pós escola. Eu não achava que podia existir uma ótima vida pós escola. E isso me deixava enlouquecida. Acho que só não pirei de vez porque tinha absoluta certeza do que eu queria fazer pelo menos. Eu já sabia que seria jornalista desde que eu entrei na 5° série. E não consigo imaginar outra profissão exatamente por ser a única que eu quis na vida. Mas me deixava enlouquecida o fato de eu não ter referências nenhuma sobre a faculdade e eu gostava tanto de ter tudo sob o meu controle absoluto. HÁ, coitadinha... O ciclo se fechou, hoje eu fico me perguntando se eu seria outra pessoa se não tivesse passado por isso, mas sei que eu estive exatamente no lugar que eu precisava e no momento que eu tinha que estar. E dois mil e nove passou e eu sobrevivi.
Não foi um ano que eu vivi adoidado como a maioria das pessoas que conheço. Eu não matei aula, não fiquei vagabundando no pré-vestibular, não fui pra balada e nem fiz nenhuma doideira. E não me arrependo de absolutamente nada, me tive um ano feliz e inesquecível. Eu não fui igual a todas as pessoas, mas de qualquer forma não é todo mundo que está estudando em uma Universidade Federal, não é todo mundo que foi selecionada para passar um semestre da graduação em outra federal do país...
Agora o último ano da faculdade vem chegando. Junto dele mais uma crise sobre o que fazer depois. E pesquisas sobre outros cursos, pós graduação, mestrado. Qualquer coisa que me mantenha estudando. Já que desde que eu me entendo por gente isso é tudo que eu faço na vida. Que se feche mais um ciclo. Que venha cheio de mudanças, pois hoje eu sei que são elas que me fazem, que me constroem. Eu já aprendi que eu nasci para as mudanças. Dois mil e quatorze, mais um último ano sombrio e desconhecido.
"O que sou então? Sou uma pessoa que tem um coração que por vezes percebe, sou uma pessoa que pretendeu pôr em palavras um mundo ininteligível e um mundo impalpável. Sobretudo uma pessoa cujo coração bate de alegria levíssima quando consegue em uma frase dizer alguma coisa sobre a vida humana ou animal.” LISPECTOR, Clarice
sexta-feira, 25 de outubro de 2013
último ano
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quinta-feira, 17 de outubro de 2013
o que eu sou quando cresci
em homenagem ao dia das crianças.
o texto é uma nota que escrevi no facebook em qualquer época de devaneio.
de 8 de fevereiro de 2013 às 20:57
o texto é uma nota que escrevi no facebook em qualquer época de devaneio.
de 8 de fevereiro de 2013 às 20:57
Sempre achei que a questão de toda felicidade do mundo fosse se tornar quem você sempre sonhou na infância. Sempre achei que precisava ter um bom emprego e um apartamento comprado aos 21 anos. Porque em minha cabeça infantil eu seria uma adulta formada aos 21 anos, como todas as outras pessoas que eu conhecia de 20 e poucos anos. (pelo menos eu imaginava que elas eram pessoas independentes e esclarecidas com essa idade)
Fiz planos para a vida desde muito nova, planos sobre onde estudar, o que fazer quando chegar, em que direção seguir e que tipos de amigos ter por perto.
Hoje eu percebo que planos são bons. Eles me deram objetivos para buscar, me deram sonhos para realizar na vida. Mas nem em todos os meus pensamentos infantis eu me imagina aos 21 anos assim como eu sou hoje.
Eu achava que fosse ser dona do meu próprio nariz, totalmente despregada dos meus pais e com amigos muito diferentes daqueles que hoje eu considero amigos de fato.
Mas na verdade o lance todo é que por mais que você faça planos e se esforce para realiza-los e fazer com que a vida seja do jeito em que você montou naquelas noites antes de dormir, um tal de destino muda tudo e te leva para onde ele bem entender.
A gente descobre que os pais se tornam mais essenciais na medida em que os anos passam. A gente entende que nosso melhor amigo é sempre a gente mesmo e que o mundo e as pessoas não eram grandes e sim nós que éramos pequenos.
Em nenhuma das cenas montadas em minha cabeça infantil sobre meus 20 e poucos anos eu me imaginava tão feliz como estou agora. Eu nunca pensei que alguém pudesse de fato sentir tanta felicidade, tanto orgulho de si mesmo, tanta satisfação pelo que se tornou (ou tem tentado se tornar).
E minha maior questão hoje em dia não é ser exatamente igual como eu sonhei. Eu ando pensando se a criança que eu era teria orgulho da adulta que me tornei (ou tenho tentado me tornar). E sim, eu com certeza seria a heroína de mim mesma quando criança. E acho que isso é suficiente para continuar a correr atrás dos meus sonhos, isso é suficiente para continuar tentando ser uma pessoa melhor a cada dia!
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