li.ber.da.de
1 Estado de pessoa livre e isenta de restrição externa ou coação física ou moral. 2 Poder de exercer livremente a sua vontade. 3 Condição de não ser sujeito, como indivíduo ou comunidade, a controle ou arbitrariedades políticas estrangeiras. 4 Condição do ser que não vive em cativeiro. 5 Condição de pessoa não sujeita a escravidão ou servidão. 6 Isenção de todas as restrições, exceto as prescritas pelos direitos legais de outrem. 7 Independência, autonomia. 8 Ousadia. 9 Permissão. 10 Imunidade. 1 Regalias, franquias, imunidades, privilégios concedidos aos cidadãos pela constituição do país ou de que goza um país, uma divisão dele, uma instituição etc. 2 Maneira de proceder não sancionada pelas convenções sociais ou pelo decoro. 3 Familiaridade importuna; atrevimento, confiança: Tomar liberdades com alguém.
Quando eu terminei o namoro de um milhão de pensei que estava livre. Prometi para mim mesmo que não ia mais me apagar a nenhuma mulher por tempo suficiente para que eu pudesse curtir tudo que havia perdido. Eu me tornei o famoso "solteiro de carteirinha". Todas as possibilidades, todas as meninas incríveis que passaram pela minha vida, todos os amores de verão inesquecíveis que eu poderia ter vivido. Eu abri mão por um discurso de liberdade. Eu era livre de um relacionamento e acabei me prendendo a um não relacionamento.
Eu sempre tive medo de viajar, sair da minha zona de conforto, abrir mão de minhas raízes. E então eu passei para a faculdade e tive que morar a mil quilometro de todas as pessoas que eu mais amava na vida. Quando eu descobri o quão lindo é o mundo eu prometi para mim mesma que seria dele. Que as raízes não me prenderiam, que eu teria amigos em todos os lugares. Eu fiquei livre para o mundo e me prendi nas não raízes.
Eu nunca tive uma religião. Eu nunca achei que precisaria me prender a uma crença, a um ser maior, a um estilo de vida. Estar disposto a ver e conhecer qualquer coisa. Sem precisar me prender a um estilo de vida ou a uma doutrina. Eu fiquei livre para as tradições e me prendi ao não.
De que forma ser livre? Não se prender? Não ter raízes? Não acreditar? Será que o fato de ter um estilo de vida freedom é sempre ser "isenta de restrição externa ou coação física ou moral" é mesmo ser livre? O não é a liberdade?
"O que sou então? Sou uma pessoa que tem um coração que por vezes percebe, sou uma pessoa que pretendeu pôr em palavras um mundo ininteligível e um mundo impalpável. Sobretudo uma pessoa cujo coração bate de alegria levíssima quando consegue em uma frase dizer alguma coisa sobre a vida humana ou animal.” LISPECTOR, Clarice
quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015
quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015
o quebra-cabeça
E foi aí que tudo deu errado. Porque ela queria a praia e ele queria o museu. Ela queria a estrada e ele queria a família. Ela queria o silêncio e ele queria a briga, a gritaria, a resposta. Ela não tinha nem a pergunta. Eles não conseguiam mais conversar, porque estar longe dos amigos fazia dele uma pessoa estressada. Estar longe da praia fazia dela uma pessoa triste. Ele sentia que perder aquela menina seria perder tudo que ele tinha conquistado na vida com seu próprio mérito. Ela sabia que perder aquele menino era perder todo o mundo que passou a brilhar para ela. Mas ela não conseguia conversar com ele e ele não conseguia conversar com ela. E o fato dele usar camiseta regata que ela conseguia relevar antes agora estava insuportável. E o fato dela odiar milho também o deixava tão triste. Mas ele precisava fazer seu tão sonhado curso de Belas Artes na capital. Mas ela precisava surfar e a praia mais próxima era há quase 10 horas dali. Começaram os gritos e a menina enfrentou seu medo de um mundo cinza e resolveu voltar para o litoral. Ela não conseguia mais lidar com o barulho.
Ele ficou na capital, chorou, chorou, chorou, chorou, chorou. Chegou o inverno e a capital ficou escura, trite. E ninguém entendeu porque e como o casal feito um para o outro acabou. Ela foi viver de novo. Descobriu outro tom de azul nas águas do litoral. Ela só não descobriu as cores nos homens.
Só restou um monte de marcas, dois corações vazios e duas vidas em seus caminhos diferentes, distantes e com sentimentos tão parecidos. Quem dera se a capital tivesse o mar ou se o mar tivesse o museu. Quem dera a vida fosse assim, encaixável como um quebra-cabeças.
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