Me peguei pensando sobre como seria minha vida se eu tivesse seguido por outro caminho. Nunca tinha de fato reparado quantas escolhas eu já fiz, quantas coisas eu já deixei para trás, quantas outras possibilidades de vida eu poderia ter tido. Melhores? Piores? Mais felizes ou não?
Na verdade eu nunca saberei o quanto eu seria mais feliz ou mais triste se tivesse escolhido mudar de academia de ballet aos 8 anos. Talvez eu tivesse me formado e me tornado um grande bailarina, uma grande professora. Talvez eu tivesse chego a mesma conclusão depois de um tempo e abandonado o ballet. E será que eu sorriria ao saber que tudo deu certo? Ou será que eu ficaria pensando que seria mais feliz se tivesse feito uma faculdade e me formado jornalista?
Na verdade eu nunca saberei se eu seria mais feliz se eu tivesse escolhido ir para qualquer outra escola na 5° série. Porque isso mudaria toda a minha vida, todos os meus amigos, todos os meus amores. E quem sabe isso mudaria até meus objetivos de vida, minha futura profissão. Quem sabe eu não teria virado médica? Acho que eu não teria ido tanto ao cinema e me apaixonado pela telona.
Na verdade eu nunca saberei se eu seria mais feliz se eu tivesse correspondido um amor no 1° colegial. Daqueles que quando você olha para o garoto hoje você nunca entende porque mesmo não quis tentar? Será que eu seria mais feliz se tivesse focado menos no estudos e mais no amor, e mais na dança, e mais na arte e mais nas baladas antes do tempo?
Na verdade eu nunca saberei se eu seria mais feliz se eu tivesse me conformado em ficar em Campinas, em ter uma vida estável e não experimentar o doce gosto da mudança, da renovação. E então eu provavelmente casaria com alguém que estudou comigo ou com um vizinho que esteve sempre por perto e eu nunca reparei. Então eu teria virado professora de ballet e estaria feliz com minhas alunas, estaria realizada. Só viria as vezes ao Rio de Janeiro visitar meus pais e passear. Mas então eu sempre ia me perguntar se eu seria mais feliz se tivesse escolhido me mudar.
E mesmo depois que eu vim para o Rio de Janeiro, eu poderia ter escolhido a vida estável de uma Faculdade Particular e algumas horas de dança em uma academia perto de minha casa. Talvez eu tivesse empregada, talvez eu tivesse com um carro. Talvez eu ficasse arrependida pelo resto da vida de não ter ido estudar em uma Universidade Federal e realizar meu sonho.
O que importa mesmo é que em qualquer outro lugar que eu estivesse eu estaria me questionando sobre como eu seria se tivesse feito outra escolha, se tivesse seguido por outro caminho. Quantas outras de mim mesma eu já tive a oportunidade de me tornar e deixei para trás? Quantas outras pessoas eu deixei de conhecer, ou me afastei, ou se afastou por causa de uma escolha, por causa de um caminho, por causa de uma ideia diferente. Quantas outras pessoas já passaram pela minha vida e se foram, e seguiram caminhos diferentes do meu? Seja por minha escolha, seja pela escolha de outro.
Na verdade eu sempre vou achar que poderia ter sido mais feliz, que poderia ter aproveitado mais, que poderia estar me sentido mais inserida, que poderia ter mantido pessoas ao meu lado, que poderia... que poderia.. que poderia.
Apenas o que tenho certeza sobre tudo isso é a gente sempre tem uma escolha a fazer, mesmo que a escolha seja não mudar nada. Mesmo não mudando nada, você ainda continua a escolher o caminho da não-mudança. O que tenho certeza é que nunca termos certeza sobre nada que escolhermos, que nunca teremos certeza sobre o que seria SE fosse uma coisa ou outra.
O mais importante se todos esses SE'S que deixamos para trás é quando vemos em nossa frente algo que nos trás um sorriso nos lábios, daqueles que vem sem a gente perceber e que é impossível conter. Ter a certeza se esses sorrisos chegariam com mais frequencia se eu tivesse feito isso ou aquilo eu nunca vou saber, mas eu sei que o sorriso está aqui e isso é suficiente.