Hoje, quase uma semana depois eu consigo colocar no papel o que vi domingo, 20 de novembro de 2011. Era uma sala de cinema, em um cinema de rua qualquer do Rio de Janeiro. Mas, em Moscou, do outro lado do planeta o melhor ballet do mundo estava estreando. E o cinema qualquer do Rio de Janeiro transmitia ao vivo. A sala estava lotada (de idosos a propósito) e quando eu cheguei o espetáculo já havia começado. Olhei para a tela, ainda na entrada do cinema e fiquei paralisada com aquele cenário maravilhoso, com aquela bailarina perfeita, com aquele figurino excepcional. A primeira reação que tive depois de alguns segundos (talvez minutos) olhando para a tela foi pegar o meu óculos na minha bolsa e obter assim uma imagem melhor. E depois de colocá-lo tudo, que já era perfeito, ficou de algum modo indescritível mais perfeito ainda. Meu pai me cutucou e disse que eu tinha que ir para a outra entrada da sala. Eu, ainda meio boba o segui. E depois de dar a volta sentei-me no chão, sem vontade nenhuma de olhar para outro lugar além da tela de cinema. Imaginem, eu estava NO CINEMA vendo BALLET. São só duas coisas que eu mais amo na vida! E o espetáculo continuava, continuava, continuava. E cada novo bailarino que entrava no palco, cada novo figurino que surgia eu descobria que as coisas poderiam ser mais perfeitas. Intervalo de 30min e eu fui atrás de alguma coisa para comer, depois de ver algumas entrevistas dos bailarinos. Com o palco ao fundo, com outros bailarinos “passando” a coreografia. Tudo tão filme! Com meu inglês precário consegui entender algumas poucas coisas que o primeiro bailarino do Ballet de Moscou falava. Ele disse que estava aprendendo muito com o ballet russo e estava muito feliz por isso.
No inicio do segundo ato voltei a sentar no chão, no cantinho, quando uma senhora estava saindo da sala e me perguntou:
- Você está sentada ai porque não tem lugar?
Eu respondi afirmativamente.
-Estou sentada no lugar tal e tal, lá no último, senta lá eu estou indo embora.
-Ah muiiiiiito obrigada – respondi com os olhos brilhantes.
E eu almocei um lanche, meio sem ver nem sentir o que estava comendo. Estava mais interessada no primeiro bailarino, vindo recentemente do EUA. Ele flutuava entre seus saltos no palco. Ah! E ele ainda disse que estava aprendendo!
E terminou, e eu pouco consegui falar sobre o assunto. Só idolatrei meu pai pelo resto da vida por ter me proporcionado esses momentos únicos. Só achei tudo maravilhoso, tudo muito lindo, tudo perfeito. E não conseguia dizer mais nada.
Me distanciando um pouco de toda magia, hoje, consigo dizer com toda certeza que foi a dança mais linda que já vi na minha vida. Percebi que a primeira bailarina do ballet de Moscou é uma pessoa humana, ela errou o tempo da música, na estréia!
Ainda consigo falar pouco sobre isso, só quem assiste poderá dizer o quão fantástico é aquilo.