Horas de aulas, dores musculares constantes, paixões que se dividem, esforço, suor, dores, escolhas, exercícios que se repetem, piruetas, alongamentos, pernas altas, saltos altos, braços alinhados (ou não), perfeição, disciplina. Renúncia. Renúncia. Renúncia. Renúncia...
Renunciar o que? Seguir que caminho? Escolher que lado? Conciliar como? Manter como? Tentar como? E quando a vida não oferece oportunidades? E quando nada mais faz sentido além das horas de aulas? E quando já não há mais tempo para seguir? E quando a escolha já foi feita? E quando o corpo reclama, pede, pulsa? E quando as perguntas já não fazem sentido? E quando a vida já não mostra caminhos? E quando a paixão se torna maior que a razão? E quando a vontade do prazer se impõe sobre a obrigação do desejo? E quando a gente cresce? E quando já não há mais tempo para brincar? E quando a gente percebe que quiçá poderia ter acontecido? Ou que talvez nunca acontecerá de fato? E as dúvidas? O que fazemos com perguntas sem respostas? O que fazemos com tantas interrogações? Renunciar o que? O sonho? ou o prazer?

Eu não quero entrar na questão amigos, mudança e saudades. Isso já é muito batido por aqui. Entretanto, é a minha maior falta. Eu tento desesperadamente não pensar, tento desesperadamente me desprender, tento desesperadamente ficar longe. E quanto mais eu tento mais eu penso, mais eu me prendo, mais eu me mantenho por perto. Eu tento desesperadamente me sentir inserida em todo esse novo mundo e tudo que eu consigo é me sentir feliz dentro de uma sala de dança com musica alta e uma sequência de jazz. O fato é que eu não me sinto inserida em grupo nenhum. Mas eu também não entrarei nessa questão, isso é assunto para outro dia. Quem sabe em um dia de reclamação e revolta com o mundo. Porque tudo que eu tento é não pensar nisso, tudo que eu tento é mentir para mim mesma dizendo que a fase de adaptação foi um sucesso.
Fato é que eu preciso fazer uma escolha, eu preciso decidir minha vida, eu preciso levar alguma coisa a sério de verdade. Fato é que eu não consigo. Porque nada nunca fez sentido de fato. E talvez nem a vida faça, mas ainda assim eu gosto muito de vive-la intensamente. E talvez seja essa intensidade e essa fascinação em querer viver tudo é que me dê tantas dúvidas, eu não sei bem o que quero. Eu sempre quis tudo! Eu sempre tive um apetite muito maior do que meu corpo e minha mente são capazes de absorver. Algumas pessoas não sabem o que querem por não querer nada. Eu não sei o que quero por querer tudo. E sinceramente, não sei o que é pior.
Talvez a maior dúvida já esteja resolvida. Porque o meu sonho é me tornar jornalista. Sempre foi esse. Sempre será esse. E todos os tipos de prazeres precisam ser aniquilados, afinal de contas, o prazer paralisa o desejo. E mesmo sem ninguém por perto para me dizer que esse é o certo, eu sei o que fazer. Essencial é ter consciência de que o certo é seguir o sonho, lutar por ele, não desistir dele. Mesmo quando ele se torna tão difícil a ponto de nem parecer mais sonho.
Renúncia. Renunciar. Abandonar. Desistir.Abdicar. Sobre as escolhas, sobre os caminhos a seguir... Talvez seja nós mesmos que construímos caminhos diferentes, nós construímos as portas a se abrirem. Eu ainda posso abrir qualquer uma das duas que construí e se mantém em minha frente. Mesmo que eu for julgada maluca por todos os outros. É como se ninguém mais importasse, ninguém mais entendesse, ninguém mais existisse, sou eu comigo mesma. Eu e as luzes. Eu e meu coração gritando. Eu e a música. Eu e os meus pés. Eu e eu mesma... Renúncia.
